domingo, 17 de outubro de 2010

Fotografias e sofás (porque não eu?)

Esse é o segundo texto, está beeeem mais longo do que o primeiro e foi feita por cima da música "Porque não eu?" de Leoni a pedido da Isabella Parente (tem um elemento dentro da estória que eu coloquei em sua homenagem, você vai reconhecer quando ler #interna). Enfim, façam bom proveito.





Música: Porque não eu? - Leoni e Herbert Vianna


Link (letra, música e video): http://letras.terra.com.br/leoni/149666/




Pouco tempo se passou desde que Otávio sofreu a pior desilusão amorosa de sua vida: sua noiva fugiu com um amigo seu no dia do casamento. Diante do duro fato, ficou realmente arrasado, um sofrimento tal que originou um incômodo ceticismo acerca de relacionamentos. A partir daquele dia, ele não quis mais saber de se relacionar com outras pessoas e decidiu focar-se apenas em seu trabalho... um instinto de auto-proteção. Nada como um coração partido para mudar um homem!

Seu apartamento era de certo modo espaçoso, mas muito aconchegante, e parecia até um pouco exagerado para abrigar uma só pessoa que mora por conta própria. No entanto, esse espaço extra era bem aproveitado pelo seu trabalho. Otávio era fotógrafo profissional e tinha um pequeno estúdio particular, e por isso passava bastante tempo em casa. E foi num desses dias predominantemente caseiros que notou uma movimentação incomum no apartamento da frente, que estava vazio: uma mudança. Uma vizinha nova. Uma ruiva bastante atraente.

Alguns dias depois, para não parecer meio deselegante, Otávio bateu à porta da nova vizinha para dar as boas vindas. Ela, que parecia ter acabado de acordar (eram 10 da manhã de uma segunda-feira), recebeu-o bem e pediu que entrasse. Nessa conversa inicial, foi revelado que seu nome era Adriana, era apenas 1 ano mais nova que Otávio, também morava só e, para surpresa dele, também trabalhava com fotografia. Daí em diante o assunto fluiu. E, ao longo do tempo, a amizade também.

No início, era apenas uma conversa casual aqui ou ali, no elevador ou no supermercado fazendo as compras da semana. Daí em diante, ao mesmo tempo em que a empatia entre eles aumentava, a freqüência das visitas que um fazia ao outro também crescia. O desenvolvimento daquela amizade foi um processo bem natural, bastante espontâneo. Dizem que você não faz amigos, apenas os reconhece... E não há nada mais claro para provar que essa citação é verdadeira do que essa situação. Inclusive, pela convergência do campo de trabalho também fizeram uma parceria profissional, o que serviu para aproximá-los ainda mais. Em nove meses de convivência, a relação entre Adriana e Otávio já parecia algo como irmão e irmã, só que tirando a parte das brigas e ameaças falsas de morte.

As noites de sexta e de domingo em que nenhum dos dois estava ocupado cobrindo um evento ou fazendo fotos de casamento aos poucos se tornaram “tradicionais” para abrir aquela vodka e conversar sobre tudo e nada. Não foi inventado nada até hoje mais eficaz do que uma mesa e dois copos de bebida para tornar duas pessoas mais íntimas através de conversas. Adriana, que se sentia cada vez mais à vontade, começava a fazer piadinhas sujas e fingir insinuações só pra provocar Otávio, que entrava junto na brincadeira. Mas Otávio só não esperava que ele, que se encontrava fechado, começasse a sentir algo estranho...

Otávio se sentia estranhamente bem quando perto daquela ruiva. Os dias de trabalho em parceria se tornavam menos estressantes, as conversas ficavam cada vez mais prazerosas, as visitas à casa de Adriana ficaram mais freqüentes e demoradas, e aquele cuidado de quem se sente responsável começou a parecer evidente. Era extremamente difícil de admitir, mas finalmente ele se apaixonou. “Mas... como falar isso a ela, sem estragar essa amizade? Deus me ajude.”

Mais uma sexta chegou e, com ela, Adriana, um vinho, dois copos e uma noite agradável. Claro, vinho é vinho, bebe-se que nem refrigerante e quando percebe, nem em pé não se consegue ficar sem se balançar para um lado e para o outro. E já que Adriana não tinha muita resistência ao álcool, bastou pouco tempo para ela ficar bem... espontânea, por assim dizer. E aquelas brincadeiras de falar piadas sujas e de provocar se tornaram mais proeminentes, e Otávio, que já não conseguia mais negar para si mesmo o que sentia, enfrentava uma tortura muito cruel ao ver Adriana o provocando, mas sendo tudo uma brincadeira e não podendo fazer nada a respeito (até porque até ali não sabia como lidar).

- Otávioo, eu já te falei que esse seu sofá pode caber duas pessoas deitadas? Assim, pode parecer que não, mas se elas ficarem bem juntinhas e agarradas, eu tenho certeza que dá! Vamos tentar?

Adriana se jogou no sofá, de um jeito até bem sensual para seu nível alcoólico, e começou a chamar Otávio para se deitar lá também, que, ao ver a cena, arregalou os olhos, pensando: “Meu Deus do céu, isso não vai dar certo! Foi muito vinho pra uma pessoa só!”.

- Adriana, vamos com calma, Adriana...
- Se você vier pra cá, olha o que eu vou fazer com você, olha!

Então, Adriana pega uma das almofadas que estavam sobre o sofá e começou a beijar. Mas não foi um beijinho qualquer, foi um daqueles que fariam qualquer homem se ajoelhar e pedir pra largar aquela almofada e o agarrar para nunca mais soltar. Otávio, que não tava mais se segurando, já estava em meios de se declarar mesmo considerando que Adriana estivesse bêbada, mas foi aí que ela, com todo o seu movimento brusco, caiu do sofá com a cabeça direto no chão. Ele correu pra ajuda-la e acabou esquecendo o que estava para fazer. Com ela não houve nada, apenas preferiu ir para casa porque percebeu (finalmente, segundo Otávio) que já tinha bebido demais. “Boa noite e sonha comigo, viu?”.

No dia seguinte, para surpresa de Otávio, Adriana foi ao seu apartamento.
- Otávio, desculpa por ontem à noite, eu acabei de me excedendo um pouquiiinho demais. Enfim... minha geladeira não tá resfriando direito e as sobras de comida que estavam lá estragaram. Aí eu tava querendo saber se você não queria pedir alguma coisa pra gente jantar, tipo uma pizza ou um china in box... topa?
- Claro. Pede aí uma pizza mesmo, qualquer sabor pra mim ta bom.

Algum tempo depois, enquanto devoravam aquela pizza sabor 4 queijos...
- Adriana, você vai fazer alguma coisa depois daqui?
- Não, nada...

Otávio estava se cocando para perguntar “Por que não eu? Tipo, ficar comigo pra valer hoje?”, mas estava se segurando. Ainda não sabia como o fazer. Conversa vai, conversa vem e aí Adriana começa a falar sobre os relacionamentos dela que não deram certo, sobre os rapazes que a dispensaram há pouco tempo, e até transparecia irritante tristeza em relação a isso. E Otávio ainda pensando “Por que não eu...?”. Ele acabou, em certo ponto, descuidando-se e pensou em voz alta:

- Por que não... ?
- O que?
Otávio fechou os olhos, respirou fundo e pensou “Não tem jeito mais, tem que ser agora”. E revelou:
- Por que não... eu? Você fica aí falando de todos esses caras que te dispensaram, que te trataram mal, que te traíram, que só te fizeram sofrer e... e enquanto a mim? Me diga a verdade: você já olhou pra mim alguma vez? Pergunto isso porque já tem um tempo que estou só te olhando... e te querendo. Bom... É isso.

Adriana fixou seu olhar nos olhos de Otávio (que nesse momento já estava com o rosto vermelho) e o silêncio, daqueles muito agonizantes, abateu-se entre aqueles dois nessa hora. Foi então que Adriana começou a mostrar um sorriso tímido de canto de boca e este evoluiu até um sorriso mais aberto e espontâneo:

- Já era tempo, Otávio!
- Oi?
- Cara, você não percebeu que metade do que eu te falei sobre os relacionamentos que eu tive e venho tentando é mentira?
- É mentira... Mentiu pra mim? Por que?
- Pra ver se você deixa de ser um bananão e finalmente se declara pra mim... e parece que funcionou! A verdade é que... eu também gosto de você... e muito!

Otávio sorriu, fechou os olhos e respirou fundo e aliviado. “Golpe de sorte... acabei acertando na loteria!”. Enfim, naquela noite ele comprovou que Adriana estava certa: realmente cabiam duas pessoas deitadas naquele sofá.

Alan MB

twitter: @ambezerra

7 comentários:

  1. Li esse texto enorme, gostei e divulguei. Agora eu que mereço uma pizza quatro queijos e que vc faça um texto para Dog Days Are Over -
    Florence And The Machine, quero ver se vc é criativo mesmo ;p

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  2. Vamos ver se agora o blogspot n encana cmg...
    Vc tem razão Alanzinho; esse tá bem melhor. Dessa vez a minha 'visão' da música casou cm o texto.
    =**

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  3. Pronto para um desafio de verdade???? e parcial, afinal n escondo q essa é uma das minhas preferidas... http://letras.terra.com.br/u2/4/

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  4. Alan, adoreeeeeeeeei!!!
    4 queijos e RM!!!!!!!!!!!!!!!!

    muito bom! tou arrependida de ter demorado tanto para ler!!

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  5. Adorei o texto alan como sempre vc eh muito criativo...
    continue assim e o blog crescerá
    ;***

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  6. Adorei o texto... li do começo ao fim, acompanhando cada detalhe. Amei como o final se deu, citando o sofá haha, demais!

    E é realmente tenso querer se declarar para algum amigo com um medo constante de acabar com a amizade. Um fato real que, no seu texto, se transformou num final feliz hihi

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