domingo, 7 de novembro de 2010

Companhia (Ultimo Romance)

Desculpem a demora para postar nesse blog, é que eu tive alguns problemas e fiquei impossibilitado de escrever. Mas agora já está tudo bem e volto com uma nova estória. A música de base é Ultimo Romance do Los Hermanos. Para os ortodoxos da gramática, um aviso: todos os erros de português, sejam eles de concordância, regência ou de qualquer outro tipo são todos intencionais, já que eu quis fazer um texto em primeira pessoa! Então, vão com calma no julgamento! xD

Música: Ultimo Romance - Los Hermanos
Letra, música e vídeo: http://letras.terra.com.br/los-hermanos/67547/


Aquele era só mais um show da minha banda naquele bar underground. Aliás, nem conto quantas vezes tocamos lá, já somos meio que "de casa". Isso é sinal de que o público gosta, né? Bom... pelo menos nunca vi ninguém reclamar. Mas aquela noite foi diferente, tá certo que eram praticamente as mesmas pessoas de sempre naquele lugar, mas tinha algo mais. Aquela garota... Até aquele, nunca tinha visto ela. Enquanto tocava, preciso confessar que parte da minha atenção era dela, e daí se explica o tanto de erros que eu cometi. E aí, depois do show...

- Juliana, prazer! Aaah, você é o baixista da banda que acabou de tocar, não é? Qual é seu nome mesmo?
- Marcos. Sou sim, gostou?
- Apesar de você ter se perdido bastante, até que gostei!

E conversa vai, conversa vem e aí descubro que aquela morena magra dos olhos verdes tem só 16 anos! E eu aqui, passando dos 30 com essa barba e um cigarro entre os dedos. Sim, eu fumo, mas sou limpo e cheiroso, juro! Se não fosse, duvido se ela teria me beijado naquela noite. É, foi isso mesmo!

Um pouco depois de começarmos a ficar, ela disse que precisava ir embora porque tinha saído escondida de casa e era bom não abusar da sorte. Isso costuma ser aquela velha desculpa esfarrapada que a gente ouve com frequência, mas ela não parecia estar mentindo. Antes de ir, é lógico que eu peguei o telefone dela. Não é todo dia que uma menina linda dessa me dá bola, né?

É como dizem, "o interessado sempre vai atrás", e assim eu liguei no dia seguinte. E no próximo. E no próximo do próximo... Nisso, a gente se encontrou várias vezes durante um pouco mais de um mês. Enfim, não teve jeito, ela ficou caidinha por mim! Só não posso negar que o primeiro a cair fui eu.

Era muito fácil notar a mudança no meu comportamento: larguei o diabo do cigarro por causa dela, fiz a barba (tá bom, eu apenas aparei porque tinha de manter ainda um pouco do charme!) e cortei os cabelos, fiquei "parecendo gente", como dizia meu pai. O que uma mulher não consegue fazer, né? Era visível que eu estava gostando muito da Juliana, quem me conhecia logo percebia. Talvez algum estranho também perceberia alguma coisa olhando pra essa cara feia, mas feliz.

No mais, tudo ia bem, fora o fato de que a familia dela não aceita a gente estar junto por eu ser quase 2 vezes mais velho e com o bolso não muito favorecido. Sabe como é músico, né? Mesmo assim, continuamos nos encontrando, só que escondidos, por mais de um ano. Afinal, do nosso amor a gente é quem sabe.

Juliana, que tinha um grande potencial para ser uma daquelas patricinhas nojentas, gostava de coisas não muito convencionais: ia a bares alternativos (e assistia a todos os meus shows!), gostava de fazer trilhas, muitas vezes ia banhar de cachoeira... E eram nessas oportunidades que a gente se encontrava. Quer saber, eu também gosto de fazer esses tipos de programa. E, sinceramente, acho que foi um desses programas que causou tudo isso.

Juliana disse à mãe que iria passar o feriado da quarta-feira na casa de uma das amigas da escola, mas, obviamente, ela foi me encontrar para irmos a algum lugar. Dessa vez, fomos ao açude que fica na entrada da cidade, mas só porque ela insistiu muito. Eu nem entrei lá, já que nem sei nadar, mas ela pulou na água logo que chegamos. Se ela gosta disso, por que cortar, né?

No sábado, a gente tinha combinado de ir pra praia, mas ela me ligou dizendo que tava morrendo de dor de cabeça e febre, que nunca tinha sentindo uma dor de cabeça tão forte quanto aquela e mais um monte de coisas. Cara, eu me preocupei geral e, sendo extremamente atrevido, fui lá na casa dela na maior cara-de-pau do mundo. Bom, a parte de o pai dela quase me bater já era esperada, mas pelo menos ele me deixou ver a Juliana. E lá estava ela deitada na cama ardendo em febre.

- Eu tô mal, viu! Acordei ruim, ruim, ruim mesmo com essa dor de cabeça, aí começou a febre pra piorar de vez, e agora tá doendo o corpo todo. Cara, e eu tô morrendo de fome, mas não consigo nem comer que já boto tudo pra fora...
- Calma, tu vai ficar bem! Quando tu melhorar, a gente vai pra praia, mas agora só se eu pudesse levar a casa junto, né! Por enquanto, eu vou ficar bem aqui do teu lado... Tu não vai passar por esse sufoco todo sozinha.
- E não vai mesmo! Estamos de saída pro hospital! - assim chegou o pai de Juliana, interrompendo.

E foram. E ele se recusou a me deixar ir junto. Mesmo assim, fui lá pro hospital. Segundo uma amiga próxima da Juliana que eu achei por lá algumas horas depois, o médico falou que o estado dela é muito grave e tinha que ficar lá internada. Coitada...

Dois dias depois, a mesma amiga me falou que tudo o que ela sentia só piorou e ainda começou a tossir e tossir bastante mesmo e sentir muita dor na barriga. Nisso, eu quase fiquei louco de preocupado. Justo quando eu encontro uma pessoa assim que se encaixe tão bem comigo, acontece uma coisa dessa. Não conseguia acreditar em uma coisa desse tipo, tão... clichê. E, assim, fui lá no quarto onde ela tava internada. O pai dela só pode me odiar muito mesmo... Ele me barrou a entrada e eu falei "vou entrar aqui! Por bem ou por mal, mas vou entrar!". Ele percebeu que eu não estava fazendo uma tentativa de blefe e me deixou entrar.

- Calma, Marcos... Não se preocupa que eu vou ficar bem. Só tenha fé que vai dar tudo certo.

Dava pena de ver Juliana naquele estado. Estava muito fraca, mais magra, meio amarelada, morrendo de dores e os remédios não estavam fazendo efeito. Era dificil admitir, mas essa doença estava matando ela. No outro dia, quando cheguei no hospital me disseram que mais cedo a pressão dela foi lá embaixo, ela começou a ter muita dificuldade pra respirar nem estava conseguindo urinar mais e que tinha sido levada pra UTI. Daí, eu fui correndo pra lá e, já que eu não podia entrar, fiquei só vendo de longe pelo vidro a coitada entubada, dormindo com uma feição totalmente deplorável. Eu faria qualquer coisa por ela, ainda mais naquele momento, mas eu não era de utilidade nenhuma nessa situação. Se ela dissesse que queria ir pra algum lugar depois de melhorar, de algum jeito eu tentaria levar ela lá. FARIA QUALQUER COISA!

Sentei no banco do lado de fora junto com os pais dela, que a essa altura não se importavam mais com minha presença constante por lá. E aí eu vi uma correria de médicos e enfermeiras lá dentro e se concentrando no leito de Juliana... algo estava acontecendo! Depois de alguns instantes de tensão, um dos médicos foi lá fora e deu a notícia... talvez as piores 4 palavras que eu já escutei até hoje ("Ela foi a óbito."). Olhei para o rosto de Juliana pela última vez e saí correndo do hospital, chorando.
Essa é minha estória e cá estou eu, sentado às 3 da manhã no parapeito da cobertura do prédio onde eu moro. A vista daqui é tão boa, a lua essa noite está tão linda e mais o vento congelante indo de encontro com meu rosto me passa uma paz tão grande... Faz 2 dias que Juliana se foi, mas só agora descobriram o que ela tinha: melioidose, coisa muito rara por aqui. Bom, já não importa mais. Ela está longe de mim, mas não por muito tempo. Se no sufoco eu estava com ela, no sossego também vou estar presente. Decidi me encontrar com ela daqui a pouco, vou apenas fechar os meus olhos e deslizar bem devagar até lá...


Alan MB
Twitter: @ambezerra

12 comentários:

  1. Muito bem, Alan :)
    -ôô Melo, kkkkkkkkk
    :*

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  2. ow, nossa q triste. rsrs.
    mas tá mt bem escrito, parabens =)
    qnt tempo viu; n sabia q vc tinha esse talento, kkkk
    ah pode fazer pedido? eu digo a msk vc escreve??
    xau! xD

    Diana Guerra

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  3. Perfeito!Tocante,real,pura...
    Adorei!
    Este blog já faz parte dos meus favoritos!

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  4. UHUUUL, amei Alan. Você tem talento ein? beijoos : )

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  5. Fazer esse tipo de texto deve ser difícil... Eu lendo me envolvi demais.

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  6. Que texto lindo! São realmente poucos os textos que me prendem até o fim.
    Gostei do jeito que você escreve.

    Vou continuar lendo outros textos teus...

    Muito bom, mesmo! Parabéns :D

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  7. Eiiita amigo criativo e inteligente esse meu!
    Adorei o texto.
    Saudades, Alan.

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  8. Muito bom cara!
    já não é novidade dizer que me arrepiei.
    Perfeito.

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  9. Tem um selo para você no meu blog, tá na página "Selos", pega lá! :D

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